As raízes do 8 de Janeiro não foram arrancadas. Seus galhos estão aí expostos à luz do sol para quem quiser enxergar.
Rubens Valente, em O 8 de Janeiro Continua, publicado na Agência Pública
[…]
A democracia não pode ficar restrita a gabinetes refrigerados, computadores de última geração, cadeiras altas e mesas polidas como os que foram destruídos em 2023. Ela se engrandece é na relação com os que têm menos voz e menor poder de influência.
Resultados para a pesquisa de: 8
Iniciativa Veritate: Preparação WordCamp 2018
Dia 13 de Outubro, 6 dias depois do primeiro turno das eleições 2018, vai rolar o WordCamp 2018, onde farei a palestra WordPress como ferramenta cívica: Veritate – Agregador de Checagem de Fatos.
Depois da palestra vou publicar os slides e mais informações aqui no blog, mas acho que é uma boa oportunidade para falar da iniciativa, um projeto sem fins lucrativos que criei com a intenção de usar meus conhecimentos para ajudar a fortalecer as agências checagens de fatos no Brasil em um momento tão conturbado em nossa sociedade.
O que é a Iniciativa Veritate
A iniciativa é composta de Indexador (Crawler), Índice Público/API, e Agregador/Busca de checagens de fatos.
O componente mais visível é a ferramenta de busca: https://veritatesearch.wowperations.com.br
Em princípio, não é muito diferente de como funciona o Google, mas focada em checagens de fatos. Nesta ferramenta você encontra as checagens mais recentes das 3 maiores agências do Brasil (A Pública, Aos Fatos e Lupa) num lugar só e também pode procurar artigos que contenham uma determinada palavra-chave.
Ao invés de ficar visitando 3 sites tão diferentes entre si, vasculhando para ver se encontra uma determinada verificação, encontra várias delas num lugar só. Depois clica e visita o site original para ler o(s) artigo(s).
Por enquanto, este agregador é uma prova de conceito, um trabalho em progresso, com muitas melhorias e novas funcionalidades possíveis.
Quais os objetivos da Iniciativa?
- Estimular o compartilhamento de checagens de fatos
- Instigar o senso crítico a respeito de notícias falsas (Fake News)
- Fornecer ferramentas que ajudem as pessoas a tomar decisões baseadas em informações verídicas
- Registrar estes artigos como arquivo histórico e também para resguardá-los de ações de censura e ataques
- Pesquisar, experimentar, desenvolver e divulgar tecnologias, algoritmos, padrões de design e melhores práticas para jornalismo digital
Quais os problemas que estou tentando resolver
Em linhas gerais:
- O público em geral usa de pouco senso crítico e tem pouco tempo para verificação de informações e pesquisa de fatos
- O alcance das checagens ainda é tímido e — como praticamente todo tipo de informação — controlado por duas empresas: Facebook e Google
- Veículos de imprensa e jornalistas são cada vez mais alvo de assédio, ataques e manobras visando censurá-los
- Veículos digitais — especialmente os independentes — estão sob constante ameaça de grupos interessados em disseminar desinformação e fragilizar a democracia republicana
- O formato atual de distribuição — site tradicional e compartilhado — fragiliza os veículos jornalísticos, que pouco aproveitam o potencial disruptivo trazido por APIs e tecnologias abertas. Num futuro próximo, isto tornará os 3 pontos acima ainda mais preocupantes
Como quero lidar com estes problemas
De duas formas:
- Oferecendo ao público novas formas de acessar e compartilhar checagens de fatos de veículos sérios e ao mesmo tempo…
- Possibilitar que desenvolvedores de software possam acessar e espalhar o conteúdo em novos canais, o que também ajuda a contornar ações de censura e recuperar-se de ataques de outra forma podem tornar os conteúdos indisponíveis
Inicialmente são 3 subprojetos: Indexador, Índice Público/API, e Agregador/Busca.
Indexador Veritate (Robô)
O indexador é uma ferramenta que rastreia, avalia e organiza os artigos publicados em veículos de checagem de fatos. É como o robô do Google e faz todo o trabalho de rastrear, extrair, avaliar e organizar os conteúdos.
Índice Público (API) Veritate
Um índice público com informações sobre as checagens de fatos num formato adequado para consumo por softwares (e outros sites, etc), que poderão consultá-lo através de uma API (do tipo REST) que apresenta as informações em JSON, um formato próprio para intercâmbio entre sistemas.
Com esta API, um desenvolvedor de plugins WordPress pode criar uma ferramenta que consulte o Índice e mostre links para checagens sobre palavras-chaves encontradas em posts de blogs pessoas ou de veículos menores/locais, diminuindo a chance de desinformação por engano.
Outro desenvolvedor poderia criar um robô para Telegram ou WhatsApp com checagens para palavras-chaves pré-definidas (será ótimo para grupos de família :-) ).
Um terceiro desenvolvedor pode criar uma ferramenta que espalhasse o conteúdo para outras redes sociais automaticamente ou ainda um robô que apresentasse fatos automaticamente no Twitter. E por aí vai.
- Home da API do Índice Público: https://veritatecrawler.wowperations.com.br
- Exemplo de consulta à API do Índice Público: https://veritatecrawler.wowperations.com.br/wp-json/wp/v2/posts
Foi usando este índice público que construí a prova de conceito do buscador:
Neste link há mais algumas informações gerais sobre a arquitetura do projeto: https://github.com/celsobessa/veritate/
O que a Iniciativa Veritate pode agregar aos veículos
- Aumento de Alcance, Tráfego
- Segurança contra censura ou falhas técnicas (acaba servindo como backup)
- Análises/Auditorias Técnicas e sugestões de melhoras para indexação das checagens
- Facilitar a “syndication” de checagens de fatos, que pode se tornar uma fonte de receita alternativa para os veículos originais
Conselho Veritate
Creio ser fundamental formar um conselho para auxiliar a definir funcionalidades, características, algoritmos, políticas, aspectos jurídicos, etc.
Meu desejo é que o conselho seja composto por pessoas de diferentes posicionamentos no espectro político, etnias, gêneros, nacionalidades, etc., desde que comprometidas com os princípios do bom jornalismo e ideais democráticos. Embora eu me enxergue como centro-esquerda, não vejo problemas em ter componentes de centro-direita, desde que, repetindo para ficar bem claro, prezem por bom jornalismo, entendam o valor de checagem de fatos e tenham compromisso com a democracia
Além de mim, gostaria que o conselho contasse com editoras/es dos veículos mais relevantes(*) e outras/os convidadas/os com experiência jornalística, tecnológica, jurídica ou acadêmica.
Se você tem interesse, entre em contato (veja abaixo)
Plano de Ação
- Prova de Conceito [realizado]
- Chamada para contribuição (desenvolvedores, designers e editores) [em progresso]
- Demonstração e Colaboração com Veículos
— Formação de Conselho
— Definição de Formato de Colaboração
— Integração com Gerenciadores de Conteúdo dos veículos - Versão 1.0
- Treinamentos
- aperfeiçoamentos e criação de novas ferramentas ou componentes.
Dúvidas Frequentes
Esta iniciativa tira tráfego dos sites de checagem?
Não! Ao contrário: o objetivo é gerar MAIS tráfego e melhorar ao alcance destes sites.
Esta iniciativa atrapalha o SEO deste sites?
Não. Como é uma API, apenas deixa os dados acessíveis, mas não conta como conteúdo para buscadores.
Esta iniciativa viola direitos autorais?
Não sou advogado, mas defendo que não.
Embora não haja regra específica na legislação brasileira, tanto a jurisprudência quanto o entendimento comum no Brasil (e outras jurisdições) é que links e coleções de links não configuram violação de direitos autorais, especialmente quando apresentam somente o título, dão os créditos de autoria e não impedem a exploração comercial por parte dos detentores destes direitos.
Além disto, espero que os veículos entendam o valor da iniciativa e autorizem o uso de resumos/trechos de até 300 caracteres na busca e na API.
Esta iniciativa tem um objetivo comercial?
Não, é um experimento sem fins lucrativos. Faço isto como cidadão e por desafio intelectual e profissional.
Caso se torne algo maior, provavelmente será como fundação, ONG ou algo assim, sem fins lucrativos, transparente e com a missão de fortalecer o ecossistema de checagem de fatos.
Como esta iniciativa será bancada?
Pretendo buscar apoio financeiro via editais, grants, etc, para garantir a continuidade do projeto (i.e. custos com infra-estrutura, segurança da API, ajuda de custo para voluntários de desenvolvimento, treinamento de equipe e de parceiros, etc).
Mais informações e contato
Se você está interessada(o) em colaborar no projeto ou tem dúvidas, me contate.
- Repositório do Projeto no Github: https://github.com/celsobessa/veritate/
- Por Email: celso@celsobessa.com.br
- Ao Vivo: no WordCamp São Paulo 2018.
Desembargador do TRF-4 manda soltar Lula no domingo 08/07
Não vou entrar no mérito de ser justo ou não e não vou me aprofundar [1], mas acho que Desembargador do TRF-4 mandar soltar o Lula no domingo 08/07, dois dias após a derrota da seleção brasileira na Copa 2018 e véspera da celebração pela revolução constitucionalista de 1932 não é bom nem para a narrativa petista.
Li a notícia na coluna da Mônica Bergamo na Folha de São Paulo: https://bit.ly/LulaSolto08Julho
[1] = Estou só registrado para a posteridade
Galeria de Fotos: Cortejo das Artes – 21a Mostra de Cinema de Tiradentes (2018)
Desde o dia 19 está acontecendo a 21a edição da Mostra de Cinema de Tiradentes – 2018. Na programação — além de exibição de filmes, oficinas, debates e palestras — , acontece o Cortejo das Artes, um desfile de bloquinhos de carnaval, grupos de congados e outras formas de celebrar arte e cultura. É bem divertido.
Este ano fiz algumas fotos do cortejo para aplicativo Japu – Rotas das Vertentes. Confira abaixo ou no meu Flickr.
Diário dos Mortos (Diary of the Dead, George A. Romero, 2008) e pós-verdade
Diário dos Mortos (Diary of the Dead) é o quinto filme na Hexalogia dos Mortos de George A. Romero, o pai do gênero. Sempre gostei do tom pessoal dele e cada vez que revejo, torna-se cada vez mais relevante.
Todos os filmes de zumbi do Romero são carregados de sátira e comentários sociais, e Diário dos Mortos se mostra um comentário sobre a realidade intermediada por telas, bem como a pós-verdade, que talvez ainda não tivesse este nome quando o filme foi lançado.
“Se não está na gravado na câmera, é como se não tivesse acontecido. Certo?“
Trailer – Diário dos Mortos (Diary of the Dead)
Se você ainda não viu, sugiro que assista. Se já viu, vale a pena rever com outros olhos. Tem na Amazon americana, incluindo Streaming (clique aqui).
Os polvos vão dominar a terra. Evidência #9876
Acabei de adicionar mais um vídeo na minha lista Os Polvos Vão Dominar a Terra. Desta vez, um polvo escapando de um barco por uma fresta pequena.
Tem mais vídeos na lista lá no YouTube
1984, 2015 e a hora do ódio
Apenas republicando o que coloquei no Facebook ontem e hoje, por conta do panelaço durante o pronunciamento da presidenta/e Dilma. Se não for óbvio, esclareço, nenhum problema com panelaço e eu mesmo pensei em participar, mas vários dos xingamentos e justificativas que ouvi ontem ultrapassava qualquer questão política ou insatisfação social e explicitava, em muitos casos, machismo, ódio e rancor puro.
Protesto eu entendo e adoro. Espuma no canto da boca eu temo. 1984, George Orwell:
“No segundo minuto o ódio chegou ao frenesi. Os presentes pulavam nas cadeiras, e berravam a plenos pulmões, esforçando-se para abafar a voz que saía da tela.
A mulherzinha do cabelo de areia ficara toda rosa, e abria e fechava a boca como peixe jogado à terra. Até o rosto másculo de O’Brien estava corado. Estava sentado muito teso na sua cadeira, o peito largo se alteando e agitando como se resistisse ao embate duma vaga.A morena atrás de Winston pusera-se a berrar “Porco! Porco! Porco!” De repente, apanhou um pesado dicionário de Novilíngua e atirou-o à tela. O livro atingiu o nariz de Goldstein e ricochetou; a voz continuou, inexorável. Num momento de lucidez, Winston percebeu que ele também estava gritando com os outros e batendo os calcanhares violentamente contra a travessa da cadeira. O horrível dos Dois Minutos de Ódio era que, embora ninguém fosse obrigado a participar, era impossível deixar de se reunir aos outros. Em trinta segundos deixava de ser preciso fingir.
Parecia percorrer todo o grupo, como uma corrente elétrica, um horrível êxtase de medo e vingança, um desejo de matar, de torturar, de amassar rostos com um malho, transformando o indivíduo, contra a sua vontade, num lunático a uivar e fazer caretas. E no entanto, a fúria que se sentia era uma emoção abstrata, não dirigida, que podia passar de um alvo a outro como a chama dum maçarico. Assim, havia momentos em que o ódio de Winston não se dirigia contra Goldstein mas, ao invés, contra o Grande Irmão, o Partido e a Polícia do Pensamento; e nesses momentos o seu coração se aproximava do solitário e ridicularizado herege da tela, o único guardião da verdade e da sanidade num mundo de mentiras. No entanto, no instante seguinte se irmanava com os circunstantes, e tudo que se dizia de Goldstein lhe parecia verdadeiro. Nesses momentos, o seu ódio secreto pelo Grande Irmão se transformava em adoração, e o Grande Irmão parecia crescer, protetor destemido e invencível, firme como uma rocha contra as hordes da Ásia, e Goldstein, apesar do seu isolamento, sua fraqueza e da dúvida que cercava a sua própria existência, lhe parecia um hipnotizador sinistro, capaz de destruir a estrutura da civilização pelo mero poder da voz.
Nesses momentos era até possível dirigir o ódio neste ou naquele rumo, por ato voluntário. De repente, por uma espécie desse esforço violento com que, num pesadelo, se arranca a cabeça do travesseiro, Winston conseguiu transferir para a moça de cabelo escuro, sentada atrás dele, o ódio que antes dedicava à figura da tela. Belas e vívidas alucinações lhe atravessaram o cérebro. Haveria de matá-la a golpes de um cajado de borracha. Amarra-la-ia nua a um poste e a crivaria de flechas como São Sebastião. Possui-la-ia e a degolaria no momento do gozo. Além disso, percebeu mais claro que antes porque a odiava. Odiava-a porque era jovem, bonita e assexuada, porque desejava ir para a cama com ela, e porque nunca o faria, porque na cinturinha fina e convidativa, que parecia pedir que a segurassem com o braço, só havia a odiosa faixa escarlate, o agressivo símbolo de castidade.
O ódio chegou ao clímax. A voz de Goldstein transformara-se de fato num balido de ovelha, e por um instante o rosto se transformou numa cara de carneiro. Depois a cara de carneiro se fundiu na de um soldado eurasiano que parecia avançar, enorme e terrível, com a metralhadora de mão rugindo, parecendo saltar da superfície da tela, de modo tão real que alguns da primeira fileira se inclinaram para trás. No mesmo momento, porém, arrancando um fundo suspiro de alívio de todos, a figura hostil fundiu-se na fisionomia do Grande Irmão, de cabelos e bigodes negros, cheio de força e de misteriosa calma, e tão vasta que tomava quase toda a tela. Ninguém ouviu o que o Grande Irmão disse. Eram apenas palavras de incitamento, o tipo das palavras que se pronunciam no vivo do combate, palavras que não se distinguem individualmente mas que restauram a confiança pelo fato de serem ditas. Então o rosto do Grande Irmão sumiu de novo e no seu lugar apareceram as três divisas do Partido, em maiúsculas, em negrito:
GUERRA É PAZ, LIBERDADE É ESCRAVIDÃO, IGNORÂNCIA É FORÇA
Mas o rosto do Grande Irmão pareceu persistir por vários segundos na tela, como se o seu impacto nas pupilas fosse forte demais para se esmaecer tão rápido. A mulherzinha do cabelo cor de areia atirara-se sobre o espaldar da cadeira que tinha à frente. Com um murmúrio trêmulo que parecia dizer “Meu Salvador”, estendeu os braços para a tela.
Depois ocultou a face nas mãos.
Era claro que orava.”
Abertura de Os Simpsons em Pixel Art “8bit”
Que delícia esta psicodélica abertura de Os Simpsons em pixel art, como os clássicos (e dificílimos) jogos 8bit da série. Foi feita como homenagem à série por dois fãs, e acabou sendo incorporada como abertura oficial (a couch gag) no episódio mais recente.