“O corpo não pornográfico existe“, um ótimo texto de Ivana Bentes na Revista Cult. Segue um trecho, mas recomendo a leitura do texto inteiro no site da revista.
O corpo não pornográfico existe
A onda de histeria coletiva produzido pelos movimentos conservadores começa a ter um padrão que se repete e está diretamente relacionada a uma lente de aumento e distorção colocada sobre fatos que durante décadas não tiveram qualquer visibilidade e nem produziram polêmicas. Pelo menos no Brasil, a nudez pública, apresentada inúmeras vezes nas últimas Bienais de Arte, exposições e centro culturais, não “chocaram” ninguém. Ou não obtiveram a repercussão que hoje se produz com o uso das redes sociais.
As “blitz” morais seguem os mesmos tipos de estratégias utilizadas para constranger professores e estudantes em campanhas como o “Escola Sem Partido”. Focam não mais apenas nos processo de corrupção no campo da política, mas também no que seria a “corrupção do caráter”, algo muito próximo do pensamento religioso que fala no pecado por “pensamentos, palavras, atos e omissões” numa espécie de cruzada nacional pela moral e bons costumes que reedita a TFP (Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade) em versão pós-memética e digital.
As operações são capitaneadas pelo MBL (Movimento Brasil Livre) a partir de resultados bem sucedidos de viralização de versões e leituras intencionalmente deturpadas para produzir indignação, comoção e criminalização. Trata-se do “senso comum” manipulado como arma política para produzir fascismos!
O MBL está se especializando em produzir escândalos a partir do imaginário do medo. Medo do estupro, medo da pedofilia, medo da pornografia, medo da nudez, medo do corpo de um homem nu e medo de “expor” crianças a situações de violação. Medos reais e concretos que, amplificados, alimentam uma demanda conservadora por censura, repressão e criminalização dos comportamentos.
Quem são os inimigos a destruir?
Os grupos conservadores encontraram um filão: a arte contemporânea, em que obras que tratam ou expõe nudez, problematizam a vergonha e a negação do corpo, rompem com o senso comum e fazem avançar nossa percepção são alvos de acusações “fora de lugar”. Uma cena de sexo em uma tela vira pornografia, a representação de aspectos da sexualidade humana se torna “perversão”.
“Todas essas constatações nos fazem presumir que a intenção dos movimentos de esquerda é, de no futuro próximo, pretenderem o fim do crime de pedofilia e liberarem o sexo entre adulto e crianças”, afirmou de forma alucinatória e alarmista o advogado Pierre Lourenço, convocado pelo MBL para dar respaldo “jurídico” às acusações de pedofilia e pornografia na performance do artista Wagner Schwartz. […]
Íntegra na Revista Cult, em https://revistacult.uol.com.br/home/ivana-bentes-o-corpo-nao-pornografico-existe/