Artigo obrigatório de Renan Quinalha no site da Revista Cult, sobre a polêmica do cancelamento da exposição Queermuseu no Santander Cultural em RS. Destaco alguns trechos abaixo, mas sugiro ler o artigo na íntegra no site da revista, em https://revistacult.uol.com.br/home/queermuseu-e-o-obscurantismo-dos-cidadaos-de-bem/
Diferença entre representação artística e apologia
Em primeiro lugar, é preciso tomar como ponto de partida a diferença entre a realidade e a representação. Não é preciso evocar teorias para constatar que a arte não é a realidade, mas uma representação desta em diferentes linguagens (como a fotografia, a pintura, a escultura, a performance etc).
Além disso, é preciso frisar que exibir, em linguagem artística, determinada cena erótica, um ato obsceno ou mesmo uma conduta repulsiva não configuram elogios ou apologias. Aliás, é preciso registrar que a mostra Queermuseu não fazia qualquer apologia a crime.
Representar sob a forma da obra de arte pode ser, inclusive, uma forma de denunciar ou criticar aquilo que se retrata. A relação entre a intenção do artista e a recepção do público não é simples e dada de antemão como se quer fazer crer. Há múltiplos conflitos e tensões nesse processo, mas certamente o silenciamento pela censura não é uma alternativa. Afinal, se não se puder falar ou representar algo, como se pode viabilizar a reflexão crítica e o juízo moral sobre esse mesmo algo?
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Do mesmo lado, ainda que tivesse de estar do lado contrário à patrulha moral, o Banco Santander que, antes mesmo de dar oportunidade ao curadores e aos artistas para responder às acusações em um debate público, cedeu à pressão dessa minoria violenta e conservadora. Assim, determinou o encerramento antecipado da exposição, desrespeitando a equipe toda, desperdiçando o dinheiro público ali investido e chancelando, institucionalmente, uma censura moral injustificada.
Este caso consiste em precedente muito perigoso. Os grupos moralmente conservadores estão conseguindo, cada vez mais e ainda mais depois do golpe de 2016, pautar políticas públicas no campo da educação e da cultura.
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Isso é fundamentalismo conjugado com poder político e econômico, que resulta em censura. Não se trata de defender ou de gostar dos trabalhos em si, mas tampouco se trata de esperar que a função da arte seja agradar o senso estético e moral de todos.
Íntegra no site da revista, em https://revistacult.uol.com.br/home/queermuseu-e-o-obscurantismo-dos-cidadaos-de-bem/