Polícia vê incentivo à pedofilia e apreende quadro exposto no Marco
Obra estava no espaço de arte desde junho deste ano, mas só agora provocou polêmica
O delegado que foi ao local, Fabio Sampaio, acatou o argumento e apreendeu uma das obras, alegando que há incitação ao crime. Antes mesmo da polícia chegar ao local, a direção do museu já havia imposto censura para menores de 18 anos à exposição. Além disso, a sala onde ocorre a mostra recebeu película escura nos vidros das portas.
Coordenadora do Museu, Lucia MontSerrat, afirmou que estava triste com o episódio. Indagada se vê problema no quadro, ela respondeu que vê, na verdade, uma denúncia à sociedade. A imagem reproduz a figura de um homem, com o órgão genital aparente, e uma criança em tamanho menor. A menina tem olhos grandes. Como figura de fundo, está um olho. A pintura também tem escrita a frase: o machismo mata, violenta e humilha.
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O conjunto de obras da artista não tem estética fácil, dada ao público para ser mastigado, engolido e compreendido de forma imediata. Com uso de cores fortes, imagens de sofrimento e destaque para o corpo masculino, Alessandra Cunha incomodou parte da sociedade sul-mato-grossense. Mas é justamente esse, lembra ela, o papel da arte. A ‘gota d’água’ para os conservadores foi o nome de uma das obras: pedofilia.
O quadro em questão tenta alertar para uma violência que deriva, entre outras questões, do machismo, relata a artista. A discussão trazida por Ropre é, inclusive, corroborada pelos índices de violência contra meninas – crianças e adolescentes -, e que ocorrem, na maioria das vezes, dentro da própria casa.
“Minha produção é sempre pensada em uma crítica social, mas é a primeira exposição focada mesmo em um tema isolado [violência contra a mulher] que é cheio de tabus mesmo, então provoca um incômodo em todo mundo, isso é comum. Eu quis meio que levar isso ao extremo, tanto é que a gente ve sempre usarem o corpo da mulher [na arte], e eu fiz exatamente o contrário, usei o corpo do homem, focando principalmente no falo [pênis] porque a gente vive em uma sociedade falocêntrica, e eles usam isso para estabelecer poder, então eu tinha que tocar na ferida mesmo e é um tema bem difícil”, explica.
Quando chega no ponto que deputados não conseguem (ou não querem) entender o que um quadro como este está dizendo, e a polícia acata o que estes deputados erroneamente imputam à uma obra de arte, logo depois do caso idiota no Santander Cultural, é sinal de que — fortalecido por burrice, analfabetismo funcional e incapacidade cognitiva galopantes — o obscurantismo defendido pelo Movimento Boçais Livres ganhou.
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- https://www.campograndenews.com.br/lado-b/artes-23-08-2011-08/artista-tentou-combater-o-machismo-e-a-pedofilia-mas-foi-julgada-no-cadafalso
- https://www.dw.com/pt-br/1938-o-pogrom-da-noite-dos-cristais/a-672173
- https://www.ushmm.org/outreach/ptbr/article.php?ModuleId=10007697
- Queermuseu e o obscurantismo dos cidadãos de bem, Revista CULT
- Exposição Queermuseu/Santander, Liberdade de Expressão e Idiotice Generalizada