Talvez eu volte neste assunto de forma mais profunda, mas só queria deixar registrado que The Hateful Eight (Os Oito Abomináveis)*, de Quentin Tarantino, é uma alegoria muito boa para o Brasil, embora, obviamente, seja uma alegoria para os Estados Unidos da América.
“A parte boa do justiçamento é que sacia a sede.A parte ruim é que pode ser errada tanto quanto pode ser certa […] justiça feita sem objetividade está sempre em risco de não ser justiça. (**)”
“Vendido” como um faroeste, para mim no fundo é um filme de terror, ou horror. E digo isto não só pela referênciase similaridades com clássicos do terror como Enigma de Outro Mundo (The Thing, John Carpenter), de quem empresta muito (música, cenário e até a dobradinha paranóia/ claustrofobia).
É preciso atenção e estômago para assistir pois é um filme violento, bastante violento — como todo filme de Tarantino — , mas incomoda menos pela violência visual explícita e mais por seus significados. Ora me fazia pensar em um Game of Thrones no velho oeste americano, ora trazia Postais Para Charles Lynch, projeto de fotografia do coletivo Garapa que ganhou a bolsa Zum de Fotografia no ano passado às minhas memórias.
Não é a toa que o trailer oficial em inglês termina com “passe o Natal com alguém que você odeia.”
* = Prefiro evitar o usar o título oficial no Brasil, Os Oito Odiados, que subverte a idéia de ódio no título, sem que isto realmente acrescente algo à alegoria.
** = No original: “Now, the good part about frontier justice is it’s very thirst quenching. The bad part is it’s apt to be wrong, as right […] justice delivered without dispassion, is always in danger of not being justice.”