Do boletim/newsletter da Agência Pública:
“Nós temos muita raiva, diz Milly, raiva contida, porque sempre assistimos aos homens sendo favorecidos em tantas competições da vida apenas por serem homens – do irmãozinho que brinca enquanto lavamos a louça, do pai que recebe aplausos apenas porque levou os filhos ao parque, das promoções que ganham porque se parecem com os chefes que decidem as promoções, dos votos que conquistam porque reproduzem o jargão dos padrinhos, das estrelas que ganham porque vêm de famílias militares igualmente estreladas. Nos últimos anos, diz Milly, aprendemos a “organizar a nossa raiva” e ela apareceu de forma potente em movimentos como o #MeToo, #NiUnaMenos ou no #EleNão.“
“Por mais que tentem menosprezar esses movimentos – me lembro da violência contra aquelas que foram às ruas pelo #EleNão, como se fossem culpadas pela eleição de Bolsonaro –, a verdade é que essa raiva organizada teve consequências políticas. Não é mais aceitável uma mesa de debates ou um conselho administrativo, um gabinete ministerial formado só por homens. Um dos homens mais poderosos do jet-set americano, que organizava festinhas de exploração sexual para diversos poderosos, foi preso e morto. O aborto foi legalizado em dois dos países mais católicos do nosso hemisfério. Um ministro de Estado foi demitido após denúncia de que assediou sua colega. Um instituto de um famoso empresário judeu teve que fechar as portas, e seus descendentes não podem mais apregoar o seu nome com orgulho, porque ele era abusador de crianças. Um dos presidentes mais poderosos da história do Congresso brasileiro teve que voltar atrás em uma lei que nos obrigaria a parir filhos de estupradores por ter sido acusado, ele mesmo, de estuprador. Kamala Harris, uma mulher negra, concorreu à presidência americana defendendo abertamente a legalização do aborto, em vez de se acovardar diante de súplicas para que ela “moderasse” o tom. Recebeu mais de 75 milhões de votos, 48,3% do total, e mostrou que metade do eleitorado está conosco.”
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